Manter as crianças entretidas e aprendendo é um dilema comum na vida de pais e professores. Já se sabe que que o ato de brincar é bom e necessário para o desenvolvimento natural e sadio dos pequenos, mas brincar pode incluir muitas coisas, e talvez outras não.
Ler um livro é brincar? Ler é bom para o aprendizado não só na área de linguagem, mas também na emocional e cognitiva. E o melhor, pode ser muito divertido. Por isso, a atividade de leitura é tão importante quanto brincar, seja considerada uma brincadeira ou não.
Apesar da leitura de um livro, por exemplo, ser muito bem vista por pais e professores, um primo próximo deste, os quadrinhos, ainda sofrem preconceito. E isso é um problema que precisa ser resolvido, e as crianças agradecem.
Scott Mcloud, um quadrinista e estudioso de histórias em quadrinhos, elaborou uma definição técnica do que são histórias em quadrinhos. Segundo ele:
Histórias em quadrinhos são um conjunto de imagens pictóricas justapostas.
E o que isso quer dizer? Que elas são formadas por imagens, geralmente desenhos, colocadas em sequência dando um sentido a cada uma no conjunto. Podemos dizer que histórias em quadrinhos são narrativas gráficas.
As histórias em quadrinhos são como um filme, mas onde se pega somente alguns momentos para contar uma história. Elas formam um outro tipo de arte, comumente chamada de nona arte, assim como o cinema é chamado de a sétima arte. Essa nova arte tem toda uma complexidade e beleza ainda não reconhecida por muitos.
Se você acha que histórias em quadrinhos são somente historinhas com desenhos de bonequinhos e super heróis, pode estar achando estranho. Na verdade, os quadrinhos são uma forma de arte que pode conter histórias de diversos gêneros, assim como os livros de prosa ou os filmes. Por isso, é preciso ter cuidado ao selecionar que quadrinhos permitir que a criança leia. Diferentemente do que a maioria pensa, não é porque são histórias em quadrinhos que são sempre adequadas para os pequenos.
No fim do século XIX o ilustrador e autor Richard Outcald criou esse tipo de narrativa em um jornal dos estados unidos. A história era sobre um garoto pobre que vivia nos guetos de Nova York. Para apresentar os diálogos do personagem ele escrevia na roupa amarela que o personagem sempre usava. Mais tarde os diálogos de personagens de histórias em quadrinhos seriam escritas no que hoje conhecemos como balões.
No começo as histórias eram predominantemente de comédia. Mais tarde surgiram as histórias de super heróis, antecedidos pelo Super-Homem. E com o passar do tempo gêneros como suspense, romance e terror também surgiram nesse tipo de narrativa.
Entre os principais benefícios oferecido pelo contado com quadrinhos estão o desenvolvimento cognitivo e emocional.
Por meio das histórias a criança empatiza com os personagens. Ela vê e tem oportunidade de entender as emoções de outros. Medo, felicidade, tristeza, entre outras, são mostradas em contexto se tornando uma espécie de treino para o pequeno leitor identificar e compreender as emoções de outras pessoas. E não só as emoções como tudo o que acontece na narrativa.
Como nas histórias em quadrinhos são mostrados apenas alguns momentos do que está acontecendo, diferentemente dos filmes, onde quem assiste pode ver toda a ação, quando as lemos precisamos fazer um esforço cognitivo para preencher a lacuna entre um quadrinho e outro.
Por exemplo, em um filme de animação veríamos um mágico enfiar a mão na cartola e depois ir tirando a mão dela segurando um coelho. Já nos quadrinhos não se mostra a ação toda, se mostrariam talvez apenas um quadro com o mágico tendo a mão fora da cartola, outro com ele tendo sua mão dentro da cartola e outro com a mão novamente fora da cartola mas dessa vez com um coelho.
Esse “esforço” mental é benéfico principalmente para as crianças, já que elas estão em pleno desenvolvimento mental e seus cérebros tem muita plasticidade. É claro que com um livro comum, sem imagens, esse “treino” cognitivo seria maior, mas pelo mesmo motivo que livros infantis geralmente tem desenhos, os quadrinhos são ótimos pois não exigem tanta habilidade e esforço das crianças, o que poderia desanimá-los e fazê-los desistir da leitura.
Lendo histórias em quadrinhos as crianças ainda podem aumentar seu vocabulário de forma efetiva, já que as palavras estarão sendo aprendidas em contexto, o que melhora a compreensão e fixação do vocabulário. Além de ser uma porta de entrada para que o pequeno tome gosto por outros gêneros narrativos, como o livro infantil ilustrado e a poesia. Sem contar que por serem divertidas, as histórias em quadrinhos podem servir de apoio à outras disciplinas como história e geografia tornando-as mais atraentes.
Quando se deixa de lado o preconceito e se olha a nona arte com novos olhos, vemos que ela é realmente uma arte, e uma muito útil no aprendizado e desenvolvimento das crianças, desde as mais pequenas até as maiores. Uma arte com história, complexidade e nuances que podem agregar nas habilidades e cultura infantis.
Mas como já avisei acima, também é preciso ter cuidado na hora de selecionar quais materiais dar para o leitor mirim. Justamente por ser uma forma de arte que, hoje em dia, possui diversos gêneros, devemos ficar atentos se a história presente no quadrinho é adequado para a idade da criança. Muitas histórias em quadrinhos são mesmo classificadas para maiores devido a temática contida na história.
Tendo dito isso, não tenha medo de oferecer histórias em quadrinhos para crianças. Verifique seu conteúdo e julgue se parece conveniente para o pequeno leitor. E lembre-se, não só de Turma da Mônica vive o pequeno leitor de quadrinhos. Existem muitas histórias interessantes de diversos tipos por aí esperando para serem lidas. Se nas bibliotecas não parece existir muitas opções, com certeza você pode achar várias on-line ou até mesmo para comprar em livrarias por um preço amigável.
Que tal dar uma chance à esse tipo de arte? As crianças agradecem.
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